segunda-feira, setembro 19, 2005

A Água

Numa altura em que se fala tanto da água (ou da sua falta) aqui está a publicação de um poema do nosso querido poeta Bocage.

Nota: Este poema contem linguagem e cenas eventualmente chocante. Contém bolinha vermelha no canto superior direito.


A Água

Meus senhores eu sou a água
que lava a cara, que lava os olhos
que lava a rata e os entrefolhos
que lava a nabiça e os agriões
que lava a piça e os colhões
que lava as damas e o que está vago
pois lava as mamas e por onde cago.

Meus senhores aqui está a água
que rega a salsa e o rabanete
que lava a língua a quem faz minete
que lava o chibo mesmo da rasca
tira o cheiro a bacalhau da lasca
que bebe o homem que bebe o cão
que lava a cona e o berbigão.

Meus senhores aqui está a água
que lava os olhos e os grelinhos
que lava a cona e os paninhos
que lava o sangue das grandes lutas
que lava sérias e lava putas
apaga o lume e o borralho
e que lava as guelras ao caralho.

Meus senhores aqui está a água
que rega as rosas e os manjericos
que lava o bidé, lava penicos
tira mau cheiro às fressureiras
lava a tromba a qualquer fantoche e
lava a boca depois de um broche.

Manuel Maria Barbosa du Bocage